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Giuseppe Garibaldi e as Repúblicas do Sul

Carga-Farrapa, Garibaldi
Tela "Carga Farrapa" de Guido Mondin.

Garibaldi: Guerreiro e articulador político

Carga-Farrapa, GaribaldiA cidade de Nice antes denominada Nizza - foi conquistada pelos franceses e esteve sob domínio do Rei da Sardenha, o Duque de Savóia, em 1814, sendo incorporada definitivamente ao território francês em 1860. Em Nizza, então italiana, às margens do Mediterrâneo, nasceu Giuseppe Maria Garibaldi. Eram seus pais: Domenico (ou Domingos) Garibaldi, Capitão do Mar, e Rosa Raimondi, que, segundo seu filho, era "um modelo de mulher e de mãe". Tiveram cinco filhos: Angelo, Giuseppe, Felice, Michelle e Teresa (que faleceu aos três anos de idade). Garibaldi era um homem atraente, de olhos castanhos penetrantes (muitas vezes descritos como azuis), barbudo, cabelos loiros (ocasionalmente avermelhados, a La Nazareno), sobrancelhas e barba loiras, fronte alta, nariz regular, de mediana estatura; era de compleição atlética e possuía "uma estranha e buliçosa aparência de espadachim inquieto". Dono de um sorriso cálido como o sol da Sicília e de uma voz que, no campo de batalha, parecia um clarim. Moço feito, foi iniciado na maçonaria Carbonária e na política de Giuseppe Mazzini, que se opunha à presença austríaca na Itália, sonhando com a unificação da península. A imensa bibliografia que existe sobre a vida e obra de Giuseppe Garibaldi, Herói de Dois Mundos e Unificador da Itália, talvez não tenha sido suficiente para ressaltar, na Europa, perante os seus atuais admiradores, a importância de seu trabalho como guerreiro e articulador político na América, especialmente no Estado do Rio Grande do Sul, que faz fronteira com a Argentina e o Uruguai. Quando Giuseppe Maria Garibaldi chegou ao Brasil, no final de 1835, mais     precisamente a 25 de novembro (em 17 de agosto de 1835, partiu de Marselha indo direto ao Rio de Janeiro); era um jovem marinheiro, idealista e sonhador, corajoso e ousado, mas praticamente inexperiente. Sua militância era exclusivamente marinheira, pelos portos do Mediterrâneo e até um pouco mais longe. No Rio de Janeiro, Garibaldi fez parte da loja maçônica Asilo da Virtude. Em 1844, no Uruguai, foi incorporada pela loja Les  Amis de Ia Patrie, de Montevidéu, em sua maioria formada por franceses.

Garibaldi e a Guerra dos Farrapos

          A 20 de setembro de 1835, explode uma revolução na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Os liberais, liderados por Bento Gonçalves da Silva, contra os conservadores, que tiveram vários chefes ao longo dos dez anos de duração da luta armada. Depois de um ano de revolução intransigente dos liberais, apelidados de Farroupilhas ou Farrapos, contra os conservadores, chamados de Camelos ou Caramurus, os farroupilhas desistiram da paz e proclamaram a República em 11 de Setembro de 1836. Separando o Rio Grande do Sul do Brasil, com o nome de República Rio-grandense, tentaram, ao longo de nove anos, organizar a estrutura de uma nação independente republicana, assolada por muitos problemas, mas cheia de bravura, tratando de realizar um Estado completo, com os serviços públicos, o exército e a marinha, porque os tempos eram de guerra. Aí é que entra Garibaldi.
          O  exército republicano teve, antes de qualquer coisa, forças de cavalaria, sendo, como são até hoje os rio-grandenses cavaleiros. O problema maior era a falta de pessoal para a Marinha de Guerra, já que os rio-grandenses são homens do lombo do cavalo, não do dorso das ondas do mar. Ademais, a costa atlântica rio-grandense, não tem portos naturais. Estaleiros navais, só em Portugal. A República possuía um pequeno estaleiro na foz do Rio Camaquã, usado para a construção de barcos em futuros combates. Garibaldi constrói e arma lanchões de guerra e faz prodígios operando nas águas  rasas da Lagoa dos Patos, pondo em xeque a poderosa esquadrilha imperial brasileira, comandada por um experiente almirante inglês, chamado John Pascoe Grenfell, mercenário a serviço da Corte no Rio de Janeiro.

Garibaldi: Comandante da Marinha Rio-grandense

         Em 1º de setembro de 1838, Giuseppe Garibaldi é nomeado capitãotenente, Comandante da Marinha Farroupilha. Retorna, então, ao estaleiro de Camaquã, a fim de apurar a construção de mais dois lanchões. A ordem recebida por Garibaldi, chefe da Marinha Rio-grandense, era difícil de ser cumprida: "Apoiar com seus lanchões as forças de David Canabarro incumbidas de tomar Laguna para, a partir dali, estabelecer um porto, haja vista que a  cidade de Rio Grande estava em poder dos imperiais".
          No dia 5 de julho, Garibaldi remonta o pequeno rio Capivari, onde não podem manobrar os pesados barcos do Império, puxando sobre rodados, para a terra, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois, atravessando ásperos caminhos, pelos campos úmidos  -em alguns trechos completamente submersos. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada. Levam seis dias até a Lagoa Tomás José, chegando, portanto, a 11 de julho. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José à Barra do Tramandaí, sob o Oceano Atlântico, e, no dia 15, lança-se ao mar com sua tripulação mista: 70 homens - Garibaldi comanda o Farroupilha, com dezoito toneladas, e Griggs, o Seival, com 12 toneladas - ambos armados com quatro canhões de doze polegadas,  de molde "escuna". Em plena tormenta, seu barco naufraga e ele vê, impotente e desesperado, amigos queridos e companheiros preciosos sendo tragados pelas ondas revoltadas com tamanha audácia. Garibaldi escapa a nado e com apenas o barco remanescente, será parte decisiva na tomada da Província de Santa Catarina, secundada por mar pelo exército farrapo, comandado por David Canabarro, onde brilhava a espada invicta de Joaquim Teixeira Nunes, o heróico e bizarro comandante dos Lanceiros Negros, que seguem por terra.


Autoria: ELMA SANT ANA
- Memorial do RS -

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